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NÃO CONCORDO COM VOCÊ



Em meio a tantos discursos de ódio, me pego pensando de onde vem tanta raiva? Seja na política, questões de gênero, igualdade da mulher, racismo, sexo antes do casamento, o próprio casamento, que roupas são de homens ou de mulher, parto humanizado, legalização de drogas, enfim, a despeito do meu posicionamento sobre cada assunto, o que mais me interessa não é saber quem está certo ou errado, mas sim, qual a fonte do ódio, o motivo da intolerância, o porque respondemos com tanta falta de respeito e de educação a quem expressa algo com o qual não concordamos. Para tanto, me pus no lugar, no lugar de quem xinga. Procurei alguéns e algos dos quais eu discordasse bastante, que me ligasse a raiva, a vontade de falar que a pessoa era uma imbecil sem cérebro, hipócrita, egoísta, interesseira, sebosa, e por aí foi… Claro, primeiramente, me deixei tomar pela raiva e ódio e expressei tudo o que precisava sair de mim. Incrível, um alívio. Num segundo momento, procurei olhar para o que despertava o meu ódio, a minha violência sobre o outro e, para a minha surpresa, percebi que meu ódio era a minha defesa a qualquer coisa que me ameaçasse, a qualquer coisa que ameaçasse a minha zona de conforto, o meu poder, a realidade que eu gostaria de viver. Faz sentido? Se alguém fala em relacionamento aberto e você acredita no seu relacionamento monogâmico (ou vice-versa) e você não quer o relacionamento aberto, você não é tomado por uma perda de controle, raiva e uma invasão de argumentos, às vezes até sem sentido, contrários ao que o outro está dizendo, para provar que o outro está muito errado, valendo até falar mal da pessoa, para acabar com a credibilidade dela? Vai que esse relacionamento aberto vira moda. E se as pessoas ao meu redor começam a aderir? E se só eu não topo mudar o meu relacionamento, o que vão falar de mim? E se eu não quero, mas o meu parceiro quer? Não, não, não. Pode ser outro tema, outros extremos, como se é melhor Dilma ou Temer na presidência, qual time de futebol é melhor, homosexualidade é natural ou tem cura, religião te leva ao céu ou te aprisiona na Terra, enfim, assuntos, pontos de vistas e discordâncias é o que não faltam, mas perceba, qual posicionamento, qual argumento, qual opinião ameaça aquilo que você quer para você? E o que você é capaz de fazer para manter as coisas do jeito que você gosta, do jeito que você quer e não do jeito que o outro está propondo? Você xinga,grita, faz chantagem, mente, faz pactos, fala a verdade, busca conversar e esclarecer as coisas, critica, suborna, se faz de vítima, deixa o outro ser como é, impede que o outro de se expressar, deseja que o outro morra e sofra muito por ser do jeito que é, aceita para o outro, mas não para você e sua família? Não há um certo e errado, você faz o que quiser da sua vida. Eu prefiro o diálogo, principalmente no conflito, que é de onde saem as mais poderosas soluções e amadurecimento de ideias, de crenças, de cultura e de pessoas. Óbvio, apesar de preferir um bom debate e conversas significativas, também sou tomado de súbito pelo impulso de sair quebrando o outro, por mais que eu o queira ouvir, o negócio que me toma por dentro não me traz outra coisa à cabeça, que não seja ver como o outro é um imbecil. Mas não quero que está seja minha única opção. Neste sentido, é importante saber a fonte da nossa raiva, do nosso ódio, da nossa intolerância. Quando você se entende e conhece o motivo daquela opinião, situação ou pessoa incomodar você, a escolha existe. Você é capaz de escolher se vai apenas agir sem controle e com violência ou se vai usar a energia de ódio e de discordância ao seu favor. É uma energia poderosa, considerada do mal à princípio, mas com seu lado belo e forte, que movimenta as pessoas, quem sente, quem a ouve, quem a vê. Quando você entende o ódio, quando você consegue sentir o ódio sem projetá-lo no outro e atacar o outro, mas sentindo o ódio que é seu, por conta das suas crenças e da sua defesa pelo que você acredita, você tem a escolha de argumentar, consciente, procurando o diálogo, ouvindo o outro e colocando o seu ponto de vista, com respeito e crescimento interior. Caso contrário, seu único caminho é a intolerância e a violência. Que corrói mais você do que o outro, pois toda vez que você se deparar com algo que a desperta, ela virá a tona. E, se você não conhece a fonte e como lidar com ela, é ela quem controla e limita você. Bruno Vicente

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