PROCURA-SE
Às vezes acho que eu corri tanto atrás da felicidade, tanto, tanto, tanto, que a atropelei e nem percebi. Sabe quando estamos indo a algum lugar,e damos voltas e voltas sem nos darmos conta que já chegamos ao destino?! É, acho que aconteceu isso comigo e a felicidade. Cheguei nela mas não me dei conta, estacionei bem em cima dela e ali fiquei, procurando, procurando, dando mil voltas, olhando ao redor e nada, não a reconhecia. Acho mais, acho que formatei na minha cabeça uma ideia a respeito da dona felicidade, um mapa, uma foto, uma receita e saí doida atrás dela. Acabei perseguindo esta "ideia" na minha corrida e só essa "ideia", e esqueci de lembrar que talvez a tal felicidade não fosse igualzinha a minha "ideia", talvez ela fosse um tantinho diferente, estivesse mais velha que na minha foto ou tivesse emagrecido, cortado o cabelo ou até feito plástica, não considerei essas possibilidades. E aí, pronto, aconteceu o desencontro, ou melhor, um encontro de desconhecidas. Fiquei bem de frente com ela muitas vezes, hoje eu sei. Mas como não sabia que ela era ela, não abracei, não apertei sua mão, nem sequer disse um oi. Não! Continuei em frente, perseguindo, procurando, mas não conseguia encontrá-la. Claro, ela não estava perdida, estava todo tempo ali bem diante de mim, debaixo do meu nariz. Ela me fazia sinais, me acenava, tentava chamar minha minha atenção de várias maneiras, mas eu, tola, nunca dei trela àquela ilustre desconhecida bem ao meu lado. Eu, falando com estranhos? Que nada, esnobava aquelazinha. Me mantinha loucamente ocupada procurando a tão falada felicidade, sem sucesso. Procurei, tentei, sofri, chorei, dei chilique, piti, ataque de pelanca e nada, até que desisti de procurar, de olhar em volta, me mantive ali quieta, parada, olhando para mim. E quer saber de uma coisa? Depois desse longo jogo de pique esconde, descobri, sem querer, que a felicidade não se encontra não. É, fique tranquila, sossega, não adianta correr atrás dela, não há o que procurar. Ela é quem te acha, chega, se apresenta e te pega para ela sem pedir licença ou permissão. Aaaaah! Quando chegaaaaa, chega chegando, sem contenção ou sutileza, ela te arrebata, te pega de jeito, te pega de vez. E mesmo que você não a queira, peça uma trégua e diga para ela ir cantar noutra freguesia, ela não vai, ela te achou meu bem! E veio de mala e cuia para ficar, ela faz de você seu endereço fixo, se domicilia na sua vida, ela se enrosca e não te larga, ela se entrega para sempre, não desgruda mais. E acostume-se, ela possui alguns efeitos colaterais irreversíveis e incessantes, ela é eterna, vitalícia, intransferível, irrevogável, não é possível negá-la, devolvê-la, emprestá-la, doá-la, vendê-la, nem tampouco negociá-la de qualquer forma, ela é sua pra sempre. Estará sempre ao seu lado. Mesmo quando parecer que ela se foi, você vai perceber que não, que foi só um truque, uma brincadeirinha, ela tava fingindo que fugiu de casa, tipo crianças quando quer chamar atenção?! É o jeito maroto que ela tem de te fazer sorrir e dizer: "Eiiii, você, eu sou a sua felicidade, toda sua, estou ao alcance das tuas mãos, me pegue, me agarre, me use, me abuse, e não me largue nunca mais, se apodere de mim de vez, me viva, me aproveite, porque eu sou sua e não vou a lugar nenhum sem você!" Paula Maria